quarta-feira, 16 de junho de 2010

Do trivela.com

O choro de Tae-Se

Postado em 16/06/2010 às 02:03 por Ubiratan Leal
 
É fácil dizer que qualquer sujeito que nasce em um país e defende outro “se naturalizou”, usando um tom de voz que denota alguma crítica. Como se trocar de país fosse negativo, algo que diminuísse o atleta ou sua equipe. Pura ignorância, puro preconceito. Para quem pensa isso, recomendo olhar um pouco o choro de Jong Tae-Se ao ouvir o hino da Coreia do Norte antes da partida contra o Brasil. De longe, a imagem mais emblemática dessa primeira semana de Mundial.
Tae-Se é a principal figura da seleção norte-coreana, mas qualquer referência a ele vem acompanhada de “o japonês naturalizado coreano” ou algo do tipo. A história dele já virou um dos chavões da Copa: nascido no Japão de família sul-coreana, foi educado em escola coreana, com inclinação para a Coreia do Norte. Depois de ver os norte-coreanos perderem para os japoneses, ficou comovido e decidiu que defenderia as cores do país de seus avós.
Aí chegamos em um ponto interessante: Tae-Se é um bom jogador. Atacante rápido, tem alguma técnica e avança com confiança rara em jogadores orientais (antes que algum venha me chamar de preconceituoso, vou deixar claro que sou neto de japoneses de Okinawa). Ele teria lugar na seleção do Japão, onde se tornaria ídolo, ganharia mais dinheiro, conquistaria mais títulos (continentais, claro) e terminaria a carreira com umas três Copas no currículo. O mesmo pode ser dito se ele preferisse a nação de seus familiares: a Coreia do Sul. Resumindo, era muito mais conveniente do ponto de vista profissional se manter como japonês ou se tornar sul-coreano.
Mas a escolha dele não foi racional. O atacante está com a Coréia do Norte porque quer, porque se identifica com o país e o que ele representa (não misturemos um país com seu governo. Qualquer nação é formada por seu povo, não por um governante). Tae-Se pegou a seleção norte-coreana como coadjuvante no cenário asiático, e a ajudou a subir vários degraus. Não foi o responsável único, mas ele sabe que fez parte do processo. Por isso, chora copiosamente sempre que o hino é tocado antes dos jogos.
Nesta terça, essa história foi levada ao mundo. A Copa não é apenas um torneio de futebol. É um evento em que países apresentam ao mundo suas cores, sua torcida e seus grandes atletas para medirem forças em um jogo. A política, o poder econômico, o poder militar e as reuniões da ONU ficam de lado (OK, isso ficou meio piegas, mas eu realmente acredito nisso).
Por isso, quando o hino da Coreia do Norte começou a tocar no Ellis Park, o planeta se deparava com a bandeira norte-coreana sem pensar em bombas, ditadura ou sanções econômicas. O que se via era um país representado por pessoas que o amam, por pessoas que se emocionam, por pessoas que choram. Um país que tem um Kim Jong-Il, mas que tem 24 milhões de Jong Tae-Ses. Ainda bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário