quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ano Novo

Serão novos os anos que passam, os séculos e os milênios que se sucedem na ampulheta do tempo?

Não são. O tempo, qual o concebemos, não passa de uma ilusão. Não há tempos novos, nem tempos velhos. O tempo é sempre o mesmo, porque o tempo é a eternidade. Todas as mudanças que constatamos em nós e em torno de nós são produto da transformação da matéria. Esta, realmente, passa por constantes modificações. A mutabilidade é inerente à matéria e não ao tempo.

A matéria é volúvel como as ondas e instável como as nuvens que se movimentam no espaço assumindo variadas conformações que se sucedem numa instabilidade constante.

O nosso envelhecimento não é obra do tempo como costumamos dizer. É a matéria que se vai transformando desde que entramos no cenário terreno. Nascemos, crescemos, atingimos as cumeadas do desenvolvimento compatível com a natureza do nosso corpo. Após esse ciclo, as mudanças tornam-se menos rápidas.

Há como que ligeiro repouso. Depois, segue-se a involução, isto é, o curso descendente que nos leva à velhice, à decrepitude e à morte, quando esta não intervém acidentalmente, pelas moléstias, cortando o fio da existência em qualquer de suas fases.

Todos esses acontecimentos nada têm que ver com o tempo. Trata-se de manifestações da evolução da matéria organizada, vitalizada e acionada pela influência do Espírito.

O Espírito é tudo. Por ele, e para ele, é que as moléculas se agrupam, se associam, tomando forma, neste ou naquele meio, na Terra ou em outras infinitas moradas na casa do Pai, que é o Universo.

Na eternidade e na imensidade incomensurável do espaço, o Espírito se agita procurando realizar o senso da Vida, que é a evolução. Para consumá-la percorre as incontáveis terras do céu. Veste e despe centenares de indumentos, assumindo milhares de formas e aspectos.

A matéria é seu instrumento, é o meio através do qual ele consegue a sua ascensão ininterrupta.

Nada significam, portanto, os anos que passam e os anos que despontam nos calendários humanos. O importante na vida do Espírito são as arrancadas para a frente, são as etapas vencidas, o saber adquirido através da experiência, e as virtudes conquistadas pela dor e pelo amor. O que denominamos passado é apenas a lembrança das condições inferiores por onde já transitamos. De outra sorte, o futuro não é mais que a esperança que nutrimos de alcançar um estado melhor. O presente eterno, eis a realidade.

Encaremos assim o tempo e, particularmente, o ano novo que ora se inicia. Façamos o propósito de alcançar no seu transcurso a maior soma possível de aperfeiçoamento.

É o que, de coração, desejamos aos nossos leitores.

Vinícius, In: Na Seara do Mestre

2 comentários:

  1. 1

    An ancient buddha said:

    For the time being stand on top of the highest peak.
    For the time being proceed along the bottom of the deepest ocean.
    For the time being three heads and eight arms.
    For the time being an eight- or sixteen-foot body.
    For the time being a staff or whisk.
    For the time being a pillar or lantern.
    For the time being the sons of Zhang and Li.
    For the time being the earth and sky.


    Excerto de Uji de Dogen. Penso que te poderá interessar apesar das distâncias temporais, culturais e geográficas. Dogen discorre generosamente sobre o tema. Há, naturalmente, traduções e estudos em portugues muito interessantes.

    Até breve.

    Como te encontras?

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